quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Açores

Desde pequeno que sempre tive o sonho de visitar as nossas ilhas (Madeira e Açores) quem não tem?!!!
É verdade, mas foi preciso vir a paixão pelas aves para me "forçar" a andar de avião pela primeira vez, e que coragem que tive, acreditem!
A viagem foi programada no inicio do ano, o objectivo principal era ver o Priolo (Pyrrhula-murina) e acabar com os alertas do eBird, do Canário da terra (Serinus-canária) para isso teria de ir á Ilha de S.Miguel, mas não chegava, pois a Ilha Terceira na migração é rica em Limícolas (sem dúvida o meu grupo preferido nas aves) e tem o Paul do cabo da praia como um dos melhores hotspot para americanas.
Ficou decidido que iria no dia 01 de Outubro para a Terceira e sairia no dia 03, ao final do dia para S.Miguel onde ficaria até ao dia 06 Outubro.
Na semana que antecedeu a viagem apareceu na Ilha Terceira um Socó-mirim, Pilrito-de-bico-fino, Borrelho semipalmado, a coisa estava a aquecer.

Dia 1
Cheguei á Terceira por volta das 11 horas locais, aluguei um carro e mal pus a chave na ignição coloquei as coordenadas do Paul do Cabo da Praia, não sei o tempo que demorei a chegar lá, mas parecia uma eternidade.
Quando parei o carro vi logo á minha frente num terreno seco vários borrelho-de-coleira-interrompida, montei o scop, binóculos no pescoço e câmara-fotográfica no ombro dei duzentos passos e vi uma pedreira com alguma água cheia de Limícolas, mãos á obra pensei eu .
Para mim o pior erro que um observador comete quando procura uma Lifer de alguma dificuldade de ID é pôr todos os prós a favor e não excluir todos os contras até chegar a uma identificação certa, porque a vontade é tanta de ver a ave que ficamos "cegos" e isso aconteceu comigo no primeiro borrelho que vi.
Tirei mais de duzentas fotos a um Borrelho-grande-de-coleira pensando que era o Borelho-semipalmado.

Borrelho-de-coleira-grande (Charadrius-hiaticula)



Desci para a direita, na tentativa de ver o Pilrito-de-bico-comprido e não foi preciso muito para ver um Perna-amarela-pequeno (Tringa flavipes), espera! dois e mais dois Pilrito-de-colete (Calidris melanotos) que loucura.
Ainda tirei uma única foto a um borrelho que poisou perto de mim que me pareceu girinho.

Perna-amarelo-pequeno (Tringa-flavipes)

Pilrito-de-colete Calidris-melanotos)
Comecei-me então a focar-me em tudo que o era pilrito e ás tantas vejo um mais pequeno que os Calidris-alba, mas não era um Calidris-minuta e apesar de não bater certo para o Calidris-baridii pois este teria que me fazer lembra uma sterna em miniatura por causa da projecção das primárias, mas como não tinha noticias de mais nada na zona, assumi que era ele, apesar de levar a pulga atrás da orelha e pronto, dei-me como derrotado, estava estafado era hora de descansar.
Ao final do dia ainda dei uma volta num jardim perto do hotel onde fotografei o Canário-da-terra pela primeira vez.

Canário-da-terra (Serinus-canaria)


No Hotel pus a foto do Borrelho no face e qual o meu espanto quando vejo o primeiro comentário.
-Porque não é um Borrelho-grande-de-coleiro?
...e outro comentário
-Sim exacto.
Que frio que senti, que raiva por ter caído no mesmo erro de outras vezes, mas ainda tinha dois dias na "carteira".
Mas espera aí, pensei eu, e aquele borrelho maneirinho que te apareceu...fui ver as fotos e incrivelmente só tinha uma e era de um ângulo confuso para avaliar, mas tinha quase certeza que era a ave, mas naquele momento não acreditava em mim.
Enviei logo a foto ao Pedro Ramalho (a quem agradeço) que me disse mais ou menos isto...
-Quase de certeza que é o Borrelho, mas só com esta foto...ok com esta foto garanto é o Charadrius semipalmatus.
- Amanhã volto a dar com ele. - respondi eu depois de ter dado um grande salto.

Pilrito-semipalmado (Calidris-pusilla)
Pedi-lhe ajuda também no Pilrito que me disse que era um Pilrito-semipalmado (Calidris-pusilla), agora sim fazia sentido.

Dia 2
Quis estar o mais cedo possível no Paul do cabo da praia a maré estaria cheia de manhã e pensei que seria o melhor, mas quando cheguei fiquei bem surpreso pois o Paul também tinha enchido e as aves estavam todas a descansar, assim seria mais difícil encontrar os bichos.
Depois de uma hora sem êxito decidi ir até a lagoa onde tinha sido observada a Garça-verde e voltaria então a tarde quando a maré estivesse vaza.
Dava para admirar a enorme beleza das paisagens da Ilha Terceira enquanto ia para a Lagoa do Ginjal, prados verdes sem fim carregados de passeriformes Canário-da-terra, Tentilhão, Lavandeira, Pombo-torcaz, ouvindo a Codorniz, Águia-de-asa-redonda foi este o cenário até ao local.

Lavandeira (Motacilla cinerea patriciae)
Confesso que estava a espera de uma Lagoa, mas quando cheguei apenas vi um "pequeno" charco com dois Perna-verde-comum e uma gaivota o dia não estava a correr nada bem.
Dei voltas em quase tudo que era hotspot sem nada de interessante então voltei ao Paul desta vez fui logo para o lado direito e a primeira ave que vejo...tcham (costumo dizer que a ave têm que dizer "tcham sou eu") Borrelho-semipalmado neste não tive a mínima dúvida, claro que nesta ave iria pedir sempre confirmação de ID.

Borrelh-semipalmado (Charadrius-semipalmatus)
Continuavam presente dois Perna-amarela-pequeno, dois Pilrito-de-colete, um Pilrito-semipalmado  e tudo mais menos o Pilrito-debico-fino.

Dia 3
Com três lifers no bolso a coisa até que estava a correr bem, mas sabendo que o Calidris-bairddi poderia estar na zona fica sempre um vazio.
Passei lá de manhã e nada, voltei ás 14 horas sabendo que tinha de apanhar o avião para S.miguel ás 18 logo só teria mais 2 horas para ver o bicho pois ás 16 tinha que estar no aeroporto.
Quando cheguei comecei a minha luta mais uma vez sem sucesso, entretanto chegou mais um observador (Vicent Legrand), boa quatro olhos serão melhor que dois pensei eu, mas mesmo assim a sorte não estava comigo, chegou também um observador local (Ricardo Bispo) que já tinha visto o Pilrito umas quantas vezes, aida demos com mais um C.pusilla.
Só tenho a agradecer-lhes pois ambos fizeram um esforço para que eu visse a ave.
Acabou tinha mesmo que ir embora, despedi-me do pessoal e qundo já estava no carro o Ricardo manda um granda grito
-Nuno está aqui o bairdii.
Corri que nem um louco só com a máquina , olhei pelo telescópio dele que apontava para a ave e disse.
-Com o sol a bater de frente é lixado mas parece-me um fuscicollis...nisto chega o Vicent que confirma com fotos que tinha acabado de tirar.
Estava destinado...

A viagem para S.Miguel correu bem melhor que a anterior (foram menos 1:30 dentro do avião) e aqui só tinha uma ave para ver o Priolo.
Levantei-me bem cedo em Direcção a Nordeste com umas coordenadas que tinha tirado do eBird que me levaram a entrar numa floresta por uma estrada de terra batida, chovia torrencialmente (a certa altura tive que parar o carro), mas numa questão de minutos passou a chuva molha-tolos e aproveitei logo para fazer o call sem sucesso.
Nãoandei 1km, e voltei a fazer o call e pimba no meio das árvores algo respondeu, apareceram dois Priolos poisando num galho bem ao descoberto.

Priolo (Pyrrhula-murina)

Pena o tempo estar  tão feio, mas tinha conseguido e honestamente esta vai par aquelas...nem precisei de sair do carro para ver...
Bom e agora o que fazer nestes três dias, bom agora estou de férias.





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